terça-feira, 31 de agosto de 2010

Holiday Fail

Qual não foi minha surpresa ao chegar à Física hoje, pontualmente às 9h, e dar de cara com a porta trancada. Tentei a porta lateral, que estava aberta. Daí o porteiro se posta na minha frente, e eu educadamente o cumprimento, quase passando por ele. Daí ele fala: Você precisa ter um cartão para entrar aqui a esta hora.

Olho o relógio e confirmo, são 9h da manhã. E eu retruco:
- Não tenho cartão ainda, mas por que a porta está trancada?
- É que hoje é feriado!
- Achei que era só ontem.
- Não, hoje também é feriado aqui na Universidade.

Resignado, agradeci e tomei o rumo de casa.

Obviamente, com cara de trouxa.


PS: agora que resolvi voltar para casa, qual não foi minha surpresa quando um carpinteiro (com lápis na orelha!!!) e o encanador batem na porta 5 minutos atrás. Eles vão drenar meu ralo hoje! E eu não posso ficar em casa o dia todo! E ninguém da casa me avisou que eles viriam hoje! Não sei o que faço agora, tenho que sair e não sei para onde...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Londres - prólogo

Sempre quando leio algo com prólogo, me preparo porque sei que o negócio vai longe. Esse é o caso desta e das postagens dos próximos dias, que relatarão aos bravos leitores deste blog como foi meu sábado passado em Londres.

Ano passado eu já havia estado por dois dias lá, de passagem após um congresso em Viena. Eu e meu orientador ficamos na casa da sobrinha dele, em Marble Arch, uma região próxima ao centro de Londres. Aproveitei aqueles dias para conhecer o máximo de lugares que conseguisse. Comecei indo ao Palácio de Buckingham para acompanhar a troca da guarda, depois à Trafalgar Square (praça mais famosa da cidade), em seguida a Westminster para ver o Parlamento e um tal relógio que fica por lá, dei uma voltinha na London Eye (roda gigante gigante), Abadia de Westminster (só por fora pq ela já estava fechada e domingo não abre para visitas), Catedral de St. Paul, British Museum, Torre de Londres, Science Museum, Oxford Street e assisti a uma peça num dos teatros de lá.

Como Londres é uma cidade com atrações quase infinitas, não foi difícil planejar um circuito alternativo a essas atrações já visitadas. E ainda sobraram muitos lugares novos para pelo menos mais 3 dias inteiros de visita à cidade. Como estou em Bristol, que fica a menos de 2h de trem de Londres, acho que atingirei essa meta em poucos meses.

Ah, quando alguém vier me visitar aqui, já aviso, não vou querer ir a nenhum lugar ao qual já tenha ido. Portanto, apressem-se, senão só vão sobrar as lojas de roupa... =P

Amanhã posto a primeira parte do meu dia em Londres.

Party on the Hill

Ontem foi um dia de descanso para mim. Queria dormir até tarde e acordar para assistir à F-1, igualzinho fazia no Brasil (tirando que lá a corrida começa às 9h e aqui às 13h...). Enfim, tudo correu bem, mas ao invés de acordar com o despertador, acordei com rock 'n' roll. E bem embaixo da minha janela...



Ontem aconteceu a festa anual Party on the Hill (ou Festa no Morro), uma tradicional festa do bairro onde moro. A rua que aparece no vídeo é a St. Michael's Hill (pegaram a analogia malandra com o nome, hã?), a qual posso observar todos os dias do meu quarto. Só que a rua é grande, bem maior do que o trecho que eu posso ver de casa. Mas não é que a tal festa se resumiu inteiramente a esse trecho? Meia dúzia de barraquinhas vendendo miçangas, hambúrgueres ou pedaços de porco, um palco e só. A maioria das quermesses de bairro de São Paulo ganha fácil dessa daqui. No palco se apresentaram umas dez bandas de bairro, algumas com som até legal, uns grupos de street dance (horrorosos, o melhor foi o das crianças de 7-9 anos) e no final fizeram uns sorteios de prêmios do Baú da Felicidade.

Resumo da ópera: consegui assistir à corrida (no último volume, é claro), apreciando a transmissão da BBC INFINITAMENTE melhor que a da Globo, almocei, desci para checar a festa, não consegui ver nada lá de baixo, comi um pedaço do tal porco (até que estava bom...), subi e acompanhei o final da festa da minha janela, com visão privilegiadíssima de todo o evento.

E uma hora depois tudo estava silencioso de novo. E extremamente limpo, como se nada tivesse ocorrido por ali.

sábado, 21 de agosto de 2010

Era só um passeio simples...

Hoje é sábado, e depois de uma semana cansativa de adaptação e até apresentações no trabalho, decidi que faria um passeio de tarde. Nada muito grande, só dar uma volta para os lados que ainda não tinha ido aqui perto de casa e ver a ponte de Bristol.

Bom, esse era o plano. Saí de casa fui me encaminhando pelas ruas. Ao chegar numa avenida, resolvi ir para a direita quando na verdade deveria ter ido para a esquerda. Daí fui descendo e descendo e cada vez parecia que eu estava mais perto do centro e mais longe de onde eu queria ir. Até que vi uma grande quantidade de pessoas aglomeradas numa praça, e reconheci que estava no centro da cidade. Mas as pessoas estavam com roupas coloridas e faixas de arco-íris... Pois é, eu estava na Parada Gay de Bristol! Até parece brincadeira, mas até agora todo o mundo da minha turma de amigos da USP que saiu para estudar fora em algum momento se deparou na Parada Gay (Bruno e Thiago, se eu não estiver esquecendo ninguém).

Consternado, virei as costas e segui para o outro lado. Depois de uma boa caminhada nas subidas e descidas infinitas dessa cidade, me deparei com isso:








Pois é, a ponte é mesmo linda, não é à toa que a escolhi como pano de fundo do blog. A vista é maravilhosa, dá para ver a cidade, o rio e a rodovia que passa embaixo. A sensação de vertigem pode ser um problema, ainda mais pq as pedras e o penhasco dão uma noção ainda mais forte de estar no alto.

Bom, tudo muito bom, tudo muito bem, mas isso não podia ficar assim não é? Tudo estava indo tranquilo até eu começar a voltar pela ponte. Pensei em voltar pela calçada do outro lado, mas havia uma corrente por lá. Vi umas pessoas pulando a corrente para sair, mas eu respeitosamente achei melhor voltar por onde tinha vindo e evitar quebrar a lei só para tirar umas fotos do outro lado. Mal sabia eu que minhas fotos seguintes seriam muito mais legais que as que pudesse tirar do outro lado!

Eu estava no meio da ponte quando notei que os carros pararam de passar. Estranho. Daí veio um policial correndo na pista e dizendo para nós (eu e umas 5 pessoas que estávamos na ponte) corrermos para fora pq a ponte estava sendo fechada. Fechada? Mas por quê? Foi o que perguntamos para o funcionário do pedágio quando chegamos do outro lado. Ele disse que havia um incidente na ponte. Incidente, que incidente? Ele disse: Nós temos um potencial suicida ameaçando pular.

Na hora só pensei no Datena gritando "Me dá imagens, me dá imagens!"



Sim senhor, é pra já!

A polícia interditou a área, ninguém mais entrava ou chegava perto. Mas quem já estava lá não precisava sair, né? Bom, até a polícia me expulsar não saí, daí fiquei procurando um lugar para poder ver se eu via tudo e conseguia umas fotos escondidas (proibidas pela polícia). Daí eu subi no morro ao lado atrás da ponte e consegui as imagens que o Datena pediu:









Depois de ser expulso (educadamente, diga-se de passagem), fiquei na ponte perto dos carros da polícia, bombeiros e resgate. Acompanhei a operação por mais de uma hora. De vez em quando vinha um policial procurar alguma coisa que o suicida tinha pedido. Uma hora foi engraçado que ele voltou com uma xícara de café para ele huauhahuauha

Depois, apertou a chuva e eu resolvi sair pq parecia q o negócio ia longe. Nessa hora tem que ter calma para não assustar o cara, ainda mais quando ele era parecia bêbado (o jovem estava com uma latinha na mão). Depois, fuçando na internet aqui, verifiquei que o cara foi salvo e tudo acabou bem. Confiram o link.

Será que vou ter que adicionar um contador de suicidas no blog?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Do choro aos Gideões - A viagem



Narro aqui como foi a minha viagem até Bristol. Infelizmente meu avião não voou tão baixo para assustar os banhistas desavisados, mas mesmo assim tenho umas histórias legais para contar.

Primeiro, o aeroporto. O voo saía às 19h de Cumbica, portanto cheguei lá bem cedo, ainda mais porque era sexta-feira. Me acompanharam meu pai, mãe, irmã e dois dos meus avós. Na despedida foi aquela coisa que todo mundo sabe que acontece quando alguém vai ficar fora durante muito tempo. Eu sabia que minha mãe e minha avó iriam chorar, por isso eu estava preparado. Mas o choro da minha irmã foi o que me pegou de surpresa e me fez chorar também. E como eu choro pouco, isso significa muita coisa. Se para os parentes é difícil ficar longe de um familiar querido, imagina só como não é com a gente que viaja, que fica longe de todo mundo ao mesmo tempo.

Depois de entrar no saguão e no avião, me recompus. Afinal, homens não choram, muito menos homens de barba! huauhauhauha Enfim, durante as 12 horas de voo até Amsterdã, não dormi nada. Isso tem o lado bom que vc acaba absorvendo mais facilmente a mudança de fuso-horário, mas em compensação te deixa pregado. Mas para entreter-me durante o voo, a KLM (empresa de aviação holandesa) tem uma TV individual em que vc pode assistir filmes, séries e até jogar uns joguinhos (babacas, é verdade!). Eu assisti 2012 e Avatar (trezentas horas cada um). Bom, para desespero do meu coleguinha Renato (cujo link do blog está aí ao lado), achei 2012 horroroso, clichezasso agoniante. Já Avatar eu gostei, achei muito bom (mesmo não vendo em 3-D, mas as animações são muito boas, e até a história é boa).

Chegando em Amsterdã, fui direto comprar meus preciosos queijos holandeses, que agora estão aqui seguros comigo para que eu os delicie quando quiser. Quando estava lá, foi anunciado naquele aeroporto gigantesco (que dá de 1000 a 0 em Cumbica) que meu voo para Bristol foi atrasado em 3 horas. E eu não tinha nada para ler e já tinha passado para o portão de embarque. Daí fiquei relendo minha papelada do CNPq quando eu escuto um velhinho tentando se comunicar com o funcionário da KLM. Eles não se entendem, daí o funcionário pergunta se o velhinho fala inglês. Óbvio, não. Holandês? Menos. Daí o velhinho disse Brasil, e o funcionário feliz e contente começou a falar espanhol... Bom, depois que eles terminaram, eu vi que o velhinho não tinha entendido nada, então fui lá ajudá-lo e explicar que o voo tinha sido atrasado e tal. Resultado, acabei passando as 3 horas batendo papo com o velhinho e a esposa dele (em cadeira de rodas). Eles são de Bauru (grande Skinão!) e estavam indo visitar o filho que mora em Bristol. Falamos sobre muita coisa e eles me deram os cartões deles. Estava escrito: Gideões Internacionais e o nome deles. Gideões... o que são gideões?

Gideões são os missionários de uma igreja evangélica em "busca de almas". Pelo menos era o que estava escrito no papel... Socorro!!! Mas eles não me encheram com nada disso nem tentaram me converter. Ao contrário, foram super simpáticos comigo. Nos despedimos, mas nos encontraríamos mais para a frente no aeroporto em Bristol. Eu saí do avião antes e me despedi deles. Passei pela fila de imigração e fui à atendente. Como os britânicos já foram rigorosos comigo antes e estão bem mais fechados para receber imigrantes não europeus, fui munido com todos os documentos que eu podia. A mulher me fez várias perguntas e tal, mas em 10 minutos eu estava liberado, podia entrar na Inglaterra. Mas não entrei. E por que não? Porque fui ajudar os Gideões Internacionais!

Eles não falam um pingo de inglês, portanto a comunicação seria impossível até chegar um tradutor. Mas quem precisa de um tradutor quando o outro único não europeu no avião além deles também era brasileiro? Então, me senti o Celso Amorim, traduzindo tudo que a funcionária da imigração dizia para o velhinho e vice-versa. E não é que a conversa demorou. Demorou 10, 15, 20 minutos. E eu lá falando sobre gente que eu nunca tinha visto antes. Ela estava muito desconfiada do tal filho deles, que poderia ser um imigrante ilegal. Chegou um momento em que ela decidiu que iria falar com o filho para comprovar a história. Ele deveria estar lá fora do aeroporto esperando os pais dele. Mas os pais não podiam sair do aeroporto. Portanto, quem foi atrás dele? Eu, é claro. E dane-se minhas malas que ficaram rodando naquela esteira durante muito tempo. Eu tinha que ir atrás de um cara que nunca tinha visto na vida num aeroporto em outro país. Daí falei com cada um dos homens lá fora perguntando se ele era o tal Zé Rubens. Nada feito, só ingleses emburrados por estarem sendo importunados. Daí eu volto e digo que não tem filho nenhum lá fora. Então a funcionária decide ligar na casa dele. E some durante 20 minutos. E eu querendo retornar para a Inglaterra e dormir depois de 30 horas acordado! Quando ela finalmente volta, diz que eles estão liberados e que o filho tinha voltado para casa pq o voo tinha atrasado muito. Ela me agradece muito e eu finalmente entro na Inglaterra de vez, com minhas malas e empurrando uma senhora em cadeira de rodas.

No fim das contas, ganhei uma carona com o filho deles para meu hotel onde passaria o fim de semana, sem antes passar uma meia hora na casa dele em Bristol tomando café com os Gideões Internacionais.

Depois cheguei no hotel. E dormi.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Balloon Fiesta

Agora que tenho um laptop (não notebook, pq isso aqui não quer dizer a mesma coisa...), posso publicar mais frequentemente sobre como estão sendo estes primeiros dias na Inglaterra.

Mas, antes, mesmo quebrando a ordem cronológica dos eventos, vou falar da coisa pela qual Bristol é mais conhecida: balões. Aliás, esse é o motivo de haver um contador de balões aí ao lado na página (e que está devidamente atualizado, diga-se de passagem). A propósito, essa ideia de contar balões foi inspirada no pioneiro contador de esquilos do Blog do Thiago (vou por o link aí do lado em breve, pq agora não o estou achando e meus favoritos são inexistentes nesse novo PC!). Mas, diferentemente desses outros contadores, este aqui certamente não conta duas vezes o mesmo balão, nem possui qualquer incerteza intrínseca na contagem. E também não conto balão que não saiu do chão, nem aqueles menores que 5 m de diâmetro...

Enfim, depois desse desabafo que estava engasgado há tempos, voltemos aos balões. Depois de uma semana intensa, sem laptop mas com trabalho a fazer, de acertos e (muitos) erros ao aprender a viver sozinho e em outro país, achei que tinha o direito de tirar o domingo de folga. E o que há de melhor que contar balões?



Nesse final de semana aconteceu aqui em Bristol a Ballon Fiesta, uma anual festa de balões que mobiliza a cidade durante semanas. Foram mais de 500.000 pessoas que passaram por lá nesses dias, na maior festa de balonismo da história da Europa, que nesse ano comemorou 100 anos da primeira viagem de balão da história.

O problema é que balão depende muito do tempo para voar, se chove, nem pensar, se venta, tem que esperar diminuir, e se venta para a direção do aeroporto, tem que esperar mudar de direção. Por isso mesmo, o malaco aqui, sabedor dos noticiários locais, planejou-se de ir somente no domingo a tarde, quando o tempo estaria bom. E de fato estava. Foi uma tarde muito legal. Além de balões, teve treinamento militar de verdade, com artilharia e exército metralhando tudo, teve manobras com helicópteros militares, apresentaçâo da esquadrilha da fumaça inglesa (vinculada ao Exército Real Britânico e que comemorou 70 anos na Batalha da Bretanha, com performances especias em homenagem aos Spitfires). Os vídeos são melhores que as fotos, mas como ainda não aprendi a por vídeos aqui, vão mais fotos:


Os Red Arrows:



E mais balões:








Pra quem nunca tinha visto um balão na vida, foi um começo animador. Pena que a próxima Fiesta é só em 2011 para dar um boost no contador.

E pena que não há um balão escondido em cada árvore na rua...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Estou vivo!!!

Oi pessoal!

Estou postando esta mensagem relampago (e sem meus preciosos acentos...) para dizer que cheguei bem aqui no sabado, me mudei para minha casa na segunda e compareci na Universidade ontem, de onde estou postando agora. Estou sem PC, pois meu laptop ainda nao chegou. Por enquanto, estou usando rapidinho o PC do novo chefe so para dar um sinal de vida.

Assim que eu puder mando mensagens descrevendo como foi a viagem e meus primeiros dias aqui nesta ilha.

Ah, e obrigado a todo mundo que mandou e-mail ou comentarios!! Nao tem nada melhor do que ler essas coisas depois de passar varios dias completamente offline.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Visto



Para aqueles fulanos que por algum acaso vão ou pensam em ir para a Inglaterra realizar seu Doutorado Sanduíche, relato aqui a minha experiência a respeito.

Primeiro: se você vai passar mais de 180 dias lá, você precisa de um visto. O Reino Unido delega a função de emitir vistos para uma empresa terceirizada, a WorldBridge, na maior parte dos países, inclusive o Brasil. Aqui, a WorldBridge mantém um escritório central no Rio de Janeiro, onde todos os pedidos são processados, e dois postos avançados para coleta de documentos, fotos e impressões digitais, um em São Paulo e outro em Brasília.

Na hora de abrir o processo para emissão de visto via internet, há diversos formulários disponíveis dependendo da classificação do candidato. Julguei "Academic Visitor" o mais adequado para o Doutorado Sanduíche, pois essa classificação abarca quem vai passar até um ano realizando pesquisa em instituição acadêmica inglesa, afastado temporariamente de sua instituição de origem. Perfeito, não?

Enfim, fui até o centro da WorldBridge em São Paulo (uma salinha sem vergonha num prédio comercial perto da Av. Paulista) com meu formulário de Academic Visitor (com suas 180 questões respondidas), a taxa de mais ou menos R$ 200 paga, meu passaporte, a carta de aceite de meu orientador na Inglaterra, o contrato e a carta de benefícios assinadas pelo CNPq (agência de fomento brasileira que me paga) e um extrato da minha conta, para provar que poderia me sustentar lá. Depois de tirar aquelas úteis fotos 3,5 x 4,5 cm (não servem nossas reles 3x4) e as impressões digitais e pagar quase R$ 100 para enviar tudo para o RJ (acho que foi com escolta dos soldados da rainha...), saí confiante de que tinha feito tudo direito.

Pobre coitado. Cinco dias depois, uma segunda-feira em que o Brasil ganharia do Chile nas oitavas da Copa, o meu telefone de casa toca. Eu atendo. Com uma calma e clareza iguais às da Ferrari mandando o Massa deixar o Alonso passar, o fulano fala: "Your visa has been DENIED". E para deixar mais claro: "Your entrance to the UK territory has been REFUSED". Sensacional!!!

Em seguida o cara me explicou o que houve: eles julgaram que eu deveria ter aplicado para Student, não Academic Visitor, pois sou um estudante de doutorado. Pediram que eu pagasse R$ 558 reais em cheque administrativo e o mandasse junto do formulário de Student para o endereço no RJ. Eu anoto tudo e desligo. Depois olho o formulário e choro: tenho que preencher o curso ao qual estou matriculado e o número de matrícula. Mas um aluno de Doutorado Sanduíche não faz curso nenhum!!! Não assistiremos aulas nem cursaremos disciplinas!!! Enfim, perguntei para meu orientador no exterior se eu poderia obter um número de matrícula. Ele disse que sim, mas só se eu pagasse a taxa de matrícula, que no meu caso na Universidade de Bristol seria de quase R$ 40000...

Isso, vc contou certo, quarenta mil reais! Mesmo vendendo rim e parte do fígado como o Thiago recomendou, não daria. Aí foi tenso. O Brasil goleando e eu chorando. Achei que tivesse acabado. Já tinha quase resolvido minha casa (história que merece outro post no futuro) e estava com toda minha cabeça mobilizada para isso há mais de um mês. Passado o pânico inicial, procurei telefones e e-mails com quem pudesse falar, mas eles não tem contato. Mandei uma reclamação via site da WorldBridge. E aí bolei meu plano: mandar cartas minhas, de meu orientador aqui, do meu orientador lá e o edital do CNPq para o RJ, em vez daquele cheque e formulário malucos. Nessas cartas todos argumentamos que eu não era estudante, era sim um visitante acadêmico.

Aí esperei. Esperei numa tensão elevada. E aí o Brasil encarou a Holanda nas quartas da Copa. E eu recebo um e-mail no mesmo dia: Your visa has been... ISSUED (emitido)!!! Festa aqui em casa!!! O Brasil chorando e eu pulando de alegria!!! Acho que as cartas foram fundamentais para eles mudarem de ideia. Mais tarde naquela semana chegou meu passaporte em casa com o visto bonitinho lá. Uma semana e meia depois de abrir o processo.

Em resumo: os ingleses são rápidos, mesmo quando há problemas, mas cubra todas as possibilidades. Mande tudo que você puder para justificar sua renda e sua condição na hora de aplicar. Não admita que eles sua classificação é inquestionável. Pois essa é a outra lição: se os ingleses puderem contestar alguma coisa, eles o farão. Portanto, cuide-se para que não sobrem brechas, pois mesmo quando você pensa que elas não existem, os ingleses as acharão.


PS: além dos comentários deste post, confira aqui o segundo post sobre o tema, feito pela Daisy.