sexta-feira, 26 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

¡Viva la España!



No colégio, eu era um dos poucos que prestava atenção e, mais ainda, que gostava das aulas de espanhol do professor Arnaldo. Lembro de um ano em que eu tirei 10 em todas as provas de todos os trimestres. E não falo isso para me gabar não, pois eu não estudava a matéria o suficiente para não errar nada, é que eu achava as provas fáceis. Em casa, eu gostava de assistir no canal 27, TVE (Televisión Española), ao programa Saber y Ganar, um típico programa de perguntas e respostas. E daí eu ia sedimentando a língua na minha cachola.

Cientificamente isso me ajudou um bocado quando tive que ir para Córdoba na Argentina durante uma semana em 2008 para meu projeto de doutorado. Turisticamente isso também me ajudou quando passeei em Buenos Aires um ano mais tarde com meus amigos e minha irmã querida e maravilhosa.

Porém, por incrível que pareça, isso também me ajudou aqui em Bristol. Não cientificamente, nem muito menos turisticamente. Mas, sim, amistosamente.

Há dois espanhóis no laboratório, mas quase sempre nos falamos em inglês. No entanto, há um inglês de Bristol lá, Jim, que tem uma namorada espanhola. Há umas semanas atrás estávamos conversando sobre isso e ele comentou que está estudando espanhol sozinho há meses para surpreender a namorada e pedi-la em casamento em espanhol. Só que ele não tem com quem praticar a fala, e isso é essencial pois ele quer pedir a mão da namorada para o pai antes, do modo tradicional, e também para poder se comunicar legal na língua nativa dela e da sua família em situações do cotidiano.

Romantismos à parte, eu me ofereci para ajudá-lo. Convidei-o para almoçar aqui em casa na semana passada, contanto que durante o almoço só falaríamos espanhol. E confesso que foi uma experiência fantástica não só para ele, mas para mim também. Ele está confortavelmente acostumado a ver as pessoas se matando para falar a língua dele, como eu. Essa foi a primeira vez que vi um inglês se esforçando para tentar falar outra língua. E falando errado!!! Confesso que senti uma felicidade interna vendo um inglês "struggling" para falar outra língua, já que a maioria aqui se contenta em falar só o inglês.

Ele estava tão tímido que foi difícil pegar no tranco. Ficava vermelho a cada frase que tentava falar. Toda hora Jim voltava para o inglês quando não sabia falar alguma coisa em espanhol. E ele estava tão preocupado em não cometer erros, em conjugar certo os verbos e coisas assim, que cada frase dele demorava uns 10 minutos. Ele só se soltou quando eu assegurei que eu não estava nem aí para os erros que ele estava comentendo, que o único que estava julgando ele era ele mesmo. Ele tinha que passar a barreira do orgulho próprio e se dispor a falar e a errar. E não recorrer para outra língua quando não sabe falar algo, assim como eu não tenho para onde correr quando não sei falar algo em inglês.

Depois que ele pegou confiança foi muito legal. Ele cometia erros mas não ligava mais para eles. Falta muito vocabulário pra ele e a conjugação é complicadíssima, pois as estruturas das línguas são muito diferentes. Mas o mais importante: ele conseguia se comunicar. Falamos sobre tudo que lhe era familiar, tipo o lab, Bristol, o tempo, críquete etc. Foi divertido. Tanto que depois ele queria continuar falando espanhol quando voltamos para o lab. Vamos fazer de novo qualquer dia desses.

E o melhor: quando eu não sabia falar alguma coisa em espanhol, eu falava em português e ele nem percebia... =P

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O quanto nóis sofre

Vejam o tanto de sotaques diferentes que existem por aqui (e nos States também). O vídeo foi certificado por ingleses locais como fidedigno aos sotaques daqui.

É dose pra entender os sotaques, seja ao vivo, seja na TV...

E eu tenho que agradecer porque eu não estou na Escócia, que é pior do que o que aparece no vídeo...

PS: Foi minha calma e tranquila irmã quem me forneceu este precioso material, portanto muito obrigado a ela por todos os seus esforços em prol do meu entretenimento e bem-estar aqui.

domingo, 14 de novembro de 2010

Jantar à moda inglesa



Na última quinta-feira tive a oportunidade de ter um jantar tipicamente inglês, numa casa tipicamente inglesa com ingleses típicos.

O problema é que eu não conhecia nem a casa, nem o menu, nem as pessoas com quem jantaria.

A Universidade de Bristol tem uma associação vinculada a ela que é responsável pela recepção aos estudantes internacionais. Eles organizam eventos cujo objetivo é integrar o estudante estrangeiro na comunidade britânica e fazê-lo se sentir menos sozinho. E eles têm um programa de "intercâmbio" entre alunos estrangeiros e famílias britânicas interessadas em "adotar" um estudante durante o ano letivo. E havia uma família particularmente interessada em estudantes que falassem português. A dona da associação perguntou se eu toparia ser "adotado" por essa família. E eu topei.

Daí na quinta passada me preparei para encontrá-la. Ou eu teria um belo jantar ou seria vítima de um sequestro bastante bizarro... O pai veio me buscar aqui em casa e me levou até a casa da família. Na frente, uma placa (em inglês): Bem-vindos à casa dos...



Simpsons, pois é...

Enfim, lá cheguei e fui recepcionado pela esposa de Homer (quer dizer, Dave...), Heidi. E pela sua mãe, Andree (sim, BIZARRO). E também pelos três filhos, o mais velho Harry (6 anos) e as meninas pequenas Charli (4 anos) e Grace (2). Configuração idêntica à dos Simpsons...

Bom, ainda bem que eu até gosto de crianças, porque para quem não gosta entrar na casa dos Simpsons seria como entrar no inferno. Aquela barulheira, criança subindo na cadeira, fazendo bagunça, destruindo o grampeador... E os pais coitados tentando manejar a situação e ao mesmo tempo falar comigo.

Depois do jantar insosso (coitado do Jamie Oliver, a comida inglesa bem que podia ser mais gostosa né?), hora da sobremesa. Eu, educadamente, esperaria que todos se servissem para começar a comer. Paspalho... A Lisa (Charlie) do nada grita no meu ouvido: EAT IT NOW!!!!!! OK, sim senhor capitão! Comecei a comer no próprio impulso do susto... e a menininha se divertia comigo lá...

Hora de dormir para as crianças. Elas estavam doidas para me mostrar o quarto delas e suas camas. O menininho dormia em cima na beliche e tinha feito até uma cabaninha para ler à noite sem atrapalhar as irmãs. O Harry desenhou um Science Man na sua parede. E o pai fez questão de dizer que eu era um Science Man... daí o menino perguntou para mim o que eu fazia... Tricky question... Respondi que eu era aqueles caras que misturavam líquidos e faziam eles mudarem de cor e sair fumaça. Ele adorou! E a mãe disse que eu fazia coquetéis...

Depois da leitura das historinhas, eles dormem e os adultos descem para conversar na sala. Eu pensei: finalmente falaria português! Paspalho (desculpa Thiago, mas gostei da palavra!). Eles tinham morado 6 meses em Lisboa e sabiam falar algumas palavras apenas. E eu não estava a fim de ser professor, portanto nem insisti muito. O máximo que falei foi com as crianças quando elas aprenderam a falar "Boa noite". E elas falaram no mínimo uns 30 boa noites cada...

De resto, tomei chá com os adultos falando sobre trivialidades ao lado da lareira. Foi divertido falar com adultos ingleses numa casa tipicamente inglesa. Nada demais, mas ajudou a quebrar a rotina.

Vamos ver o que minha família inglesa tem reservado para mim no próximo encontro...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Manchester - Parte 2

O museu da Ciência e Indústria é a melhor coisa que vi em Manchester. Mas a cidade tem outras coisas interessantes, dentre elas o motivo real de eu ter me deslocado da minha casinha para esta longínqua cidade no norte do país.

Biblioteca Central de Manchester



Estátua da rainha Vitória, que governou esta birosca por trocentas décadas, a época de ouro da Inglaterra, coincidindo com o período da Revolução Industrial (adivinhe porque ela é uma divindade por lá)



Região dos prédios e negócios



Mas a principal razão da minha ida lá foi pra ir ao Old Trafford, estádio do Manchester United. E poder ver um jogo da Premier League, primeira divisão do campeonato inglês.

Antes, contudo, paradinha para me abastecer com o tradicional Fish 'n' chips, peixe com fritas, prato típico daqui:



Chegando ao estádio, impressiona a organização e limpeza (tanto quanto Derby, mas aqui tinha muito mais gente). Sentei no meu lugarzinho (virei uma daquelas cabecinhas brancas com casacos escuros que a gente vê na torcida quando assiste campeonato europeu na TV) e esperei pelo jogo.

Vinte minutos antes do jogo o estádio estava assim:



E 20 minutos depois estava assim:



Exatamente 75.272 pessoas estavam lá. O maior público que já vi. E era só um jogo de sexta rodada, contra um time pequeno (West Bromwich Albion). E não podia começar melhor para o time da casa: 5 minutos Hernandéz fez 1x0, vinte minutos depois Nani 2x0. Show do "maior do mundo", como o locutor oficial do estádio falava. Rooney, Scholes, Ferdinand, Evrá etc. estavam jogando muito. E no intervalo a torcida cantava o hino a plenos pulmões:



However, já diria o filósofo, futebol é uma caixinha de surpresas. Escanteio e quem é que sobe? Goool do West Brom. Cinco minutos depois Van der Sar falha clamorosamente e gooolll do West Brom! Eu mais feliz que qualquer um ao meu redor, pois odeio o Manchester United. E ainda mais por causa de uma mulher tosca que ficava pronunciando o D no final do United com tanto gosto que me dava vontade de passar a tesoura na língua... O jogo ainda teve um lance emocionante no final quando o juiz tentou ajudar o UniteD dando uma falta dentro da área:



Com o resultado, a mesma torcida que gritava "(...) glory glory Man United and the Reds go marching on on on" teve que ir para casa ouvindo da torcida do West Brom: "(...) and the Reds go marching home home home"...



P.S.: Para os preguiçosos, 419 palavras só... =P

sábado, 6 de novembro de 2010

Pequeno factóide cômico



Estava eu ontem no banheiro masculino do Departamento de Física, após o almoço, escovando meus dentes. Eis que entra Tim, um cara lá do laboratório. Ao passar pela parede e chegar à região das pias, Tim me vê. Instantaneamente ele se assusta como se tivesse visto o próprio demônio, produzindo inclusive um ruído audível. E aí ele começa a rir. Eu pergunto:

- O quê foi?
- (Ele continua rindo)
- O quê foi????
- Não é nada, é que você está escovando os dentes.
- Sim, depois de todas as refeições, incluindo o almoço, eu escovo os dentes.
- Faz sentido.
- E por que você se assustou?
- É que eu não esperava ver isso quando entrei no banheiro, nunca vi ninguém escovando os dentes nos banheiros aqui da Física.

Detalhe: Tim estuda aqui desde a graduação e vai concluir o doutorado esse ano, portanto frequenta os banheiros da Física há pelo menos oito anos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Visto II



Aproveitando a grande (e inesperada) popularidade do meu primeiro post sobre o visto britânico para alunos de doutorado sanduíche (veja-o aqui - incluindo os comentários), a Daisy se propôs a contar a história dela e poder com isso ajudar quem quer vir para o Reino Unido.

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Com intuito de ajudar outras pessoas que vão tirar o visto na categoria "Academic Visitor", escrevo a minha experiência para o blog do André.

Minha batalha começou antes mesmo de tentar o visto. Primeiro, tive que realizar o TOEFL. A nota mínima que a CAPES exige é 80 pontos. Beleza, fiz e consegui mais que 80 pontos. Depois, crente que já tinha contemplado todos os requisitos da CAPES, descobri que eu teria que qualificar. Isso, 2 semanas antes do prazo da inscrição da internet no site da CAPES (16 de junho). Beleza de novo, consegui qualificar. Daí, começou a espera pela resposta da bolsa de doutorado sanduíche que poderia sair até o dia 30 de setembro. Eis que um belo dia de agosto, bem antes do prazo final, vejo no site que meu processo foi aprovado. Felicidades e mais felicidades.

E agora?! Consegui a bolsa. Agora, eu teria que correr atrás dele, sim, do VISTO. Naquele momento, eu não sabia exatamente a qual categoria deveria aplicar. Eu achava que seria o Tier 4 e avisei ao meu orientador que eu deveria ter um número, o CAS, para eu poder entrar com o pedido de VISTO. Meu orientador pediu esse número para o adviser da Escócia. O mesmo disse que a categoria de VISTO que eu deveria aplicar não era o Tier 4, pois eu não iria pagar nenhum "fee" para ficar na Universidade, e sim o famoso "Academic Visitor". Mudei totalmente minha estratégia. Pesquisei no site do ukborder todos os documentos necessários para aplicar nessa categoria. Descobri que eu não iria pagar mais de 500 reais para aplicar para o VISTO de "Academic Visitor" e sim 194 reais. Fiquei feliz! E fiquei mais feliz ainda, quando buscando pela internet, descobri o site do André e toda a história que ele passou para conseguir o tal VISTO. Pensei "Nossa, irei com a documentação correta, então, não terei problemas." Segui e me precavi em relação ao que o André havia relatado sobre a discrepância entre a denominação que as agências de formento CAPES e CNPq têm em relação a categoria de VISTO que nós alunos de doutorado devemos aplicar para o Reino Unido. A CAPES nos denomina de "Visiting Graduate Student".

Já com todos os documentos na mão. Marquei minha passagem para o Rio de Janeiro para o dia 8 de setembro de 2010, já que no outro dia, eu iria ao prédio da WorldBridge na praia do Botafogo entregar toda a documentação e tirar os dados biométricos. Depois de entregue os documentos, veio a tensão! No site do WorldBridge tem o tempo estimado para a tomada de decisão pelo consulado britânico do Rio (5 dias). Esperei 12 dias para chegada do VISTO com resultado. Abro o SEDEX e me deparo com um documento informando que minha entrada no Reino Unido foi negada! O documento "Refusal of Entry Clearence". A razão: Mesmo sendo aceita na University of St. Andrews, eu não havia enviado documentos suficientes indicando que eu trabalho em uma Universidade no Brasil ou que eu trabalho na área do meu conhecimento.

Tristeza. Fui imediatamente no site saber o que eu poderia fazer para reverter essa situação. Não me deram direito do apelo (sei que o resultado do apelo demora meses, então, não adiantava), como também não me deram direito a revisão administrativa. Cheguei a enviar ao Worldbridge um pedido de revisão administrativa, mas recebi um e-mail dizendo que eu não tinha esse direito, mas somente o direito tentar tirar o VISTO de novo.

Diante da recusa e da repulsa imediata aos britânicos, pensei em não tentar novamente, mas com a cabeça fria e conversando posteriormente com meu orientador, resolvi tentar. O que eu iria perder tentando de novo? Bem, mais um gasto com viagem e agora, paga-se 200 reais para aplicar para o VISTO para categoria "Academic Visitor". Um imprevisto. Eu não conseguia agendar minha "entrevista", pois o número de meu formulário estava errado. Simplesmente, aparecia o número "GWF" do formulário anterior. Mandei um e-mail para o Worlbridge relatando meu problema e eles me mandam um e-mail informando como deveria proceder, mesmo assim, não consegui alterar o número. Num outro e-mail, eles me mandaram uma informação errada dizendo que eu poderia agendar mesmo com o número de formulário diferente. Fui checar isso no site da ukborder e descobri que uma das exigências é que o aplicante deve se certificar que o número do formulário é o mesmo quando tu agendas no site da worldbridge. Diante da informação errada, tive que pagar 12 doláres para ligar para o serviço da Worldbridge e tentar agendar pelo telefone e foi isso que ocorreu. Paguei para agendar minha "entrevista".

Entrevista agendada para o dia 15 de outubro de 2010, juntei todos os documentos que descrevi nos comentários do tópico sobre VISTO que o André escreveu e viajei para entregá-los. Mais calma (1 hora antes de viajar, eu ainda estava imprimindo minhas declarações), fui no prédio da Worldbridge e tudo aconteceu como manda o figurino, entrega documentos, tira os dados biométricos, paga pelo SEDEX, vai embora e espera ansiosa pelo resultado.

O resultado veio pelo e-mail. Fiquei tão nervosa que não acreditava que era verdade. My VISA has been issued. Mandei o e-mail para o André para ter certeza mesmo! Depois do "É isso mesmo" do André fiquei mais aliviada. Mas, mesmo assim sem meu passaporte carimbado, certinho, não estava comemorando por completo. Numa quarta-feira, recebi o SEDEX com o passaporte carimbado. Tudo certo, categoria, validade. Me deram também "multiply entry". E finalmente, pude comemorar por ter vencido essa batalha.

Ufa, cansada da batalha, mas disposta a enfrentar mais. Posso dizer que ainda penso no pôrque que eles negaram na primeira vez, sendo que na segunda foi muito mais rápido a análise e a resposta. Não posso dizer qual foi o fator determinante para conseguir o VISTO. Mas, por precaução mesmo, melhor pecar pelo excesso e enviar todos os documentos que tens para provar todos os itens que eles exigem para categoria. Porque, Ô povo para encrencar com os outros!!!! No entanto, mexeram com o povo que não desiste nunca! ;)

Daisy