Há duas semanas, num típico sábado de verão inglês completamente nublado, eu estava atrás de ver um bom tênis. E que lugar melhor para assistir a um bom tênis do que o mais antigo torneio de importância no tênis no mundo?
Wimbledon é tradição do começo ao fim. Em 2011 eles estavam comemorando a edição número 125 do torneio que começou em 1886. É isso aí: o Brasil ainda era uma monarquia quando os cidadãos começaram a bater uma bolinha na grama deste clube na periferia de Londres.
E se tem uma coisa que inglês gosta é tradição. Se há 125 anos os tenistas jogaram todos de branco, de branco eles devem jogar até hoje, sem exceções. Se a grama foi cortada a 8 mm em 1886, essa é a altura que eles a cortam nos dias de hoje. Até aí tudo bem, nada que afete os torcedores diretamente. Mas eis aí o X da questão. Se nos idos do século XIX as pessoas compravam os ingressos numa fila única, para que mudar o esquema no século XXI?
Pois é, uma fila enorme (e única) no dia dos jogos é o único meio de se comprar ingressos para Wimbledon caso você não seja famoso ou da família real. Os primeiros 500 na fila conseguem ingresso para a Quadra Central, onde os jogos mais importantes ocorrem. Os 500 seguintes conseguem para a Quadra 1, os 500 seguintes para a Quadra 2 e os demais até o ingresso número 7500 para as quadras 3-18. Se você quiser entrar numa das quadras principais, tem que acampar na fila. Eu vi pessoas acampando às 10h da manhã de sábado para ver os jogos na segunda-feira. Tem que ser muito louco ou não ter nada melhor para fazer da vida...
Enfim, a fila é gigante. E, que surpresa, muito organizada. Não tem ninguém furando fila, nenhum cambista, banheiros químicos absolutamente limpos etc. etc. etc. Dá até para aproveitar o tempo. Bom, nas primeiras duas horas. Depois disso fica um saco. Ainda mais quando você tem que esperar 6 (SEIS) horas para entrar.
Eu cheguei às 6h10 da manhã do sábado, depois de pernoitar na casa da Aline. Só que eu tinha que esperar meu amigo Ben e seus colegas chegarem (é contra o Código da Fila guardar lugar). Eles chegaram às 6h40. Nisso eu perdi mais de 1000 posições na fila. Quando se chega na fila você recebe um Qeue Card, um cartão com um número. O meu era número 5036. Se você tem o Qeue Card número 7501 você tem que esperar uma das 7500 pessoas da sua frente se cansar e deixar Wimbledon, daí eles revendem o ingresso e você entra. Mas a fila dessa revenda é tão maçante quanto a outra... Voltando ao meu caso, na hora eles me prometeram que duraria menos de 4 horas. E na quarta hora eu já estava de saco na lua. Não é fácil ficar com 4 ingleses (3 dos quais você não conhece) com aquele sotaque carregado, com aquele humor típico deles, conversando com 5-6 outros ingleses atrás na fila, e cheios de assuntos internos dos quais eu não tenho a menor ideia do que se tratam. As últimas horas foram um pé no saco! Quase que eu puxei conversa com o japonês na minha frente para escapar da overdose bretã.
Logo que eu entrei uma das meninas que estava comigo começou a correr para chegar até a quadra 12, porque segundo ela lá aconteceriam os melhores jogos dentre as quadras 3-18. Isso significou que não pude nem olhar direito Wimbledon quando lá entrei, não pude nem assentar as ideias, tirar umas fotos e tal, fui direto para a tal quadra 12. Sentei lá, vi um game do jogo da mulher número 4 do mundo e decidi sair para explorar sozinho. Meu amigo (e namorado da menina) decidiu vir comigo. Eu não estava lá para ver um jogo específico ou um jogador em especial, eu estava lá para curtir, ver como funciona Wimbledon. E foi exatamente isso que eu fiz.
Não assisti a um jogo inteiro sequer. Fiquei zanzando de uma quadra pra outra. Vi jogo de simples, de duplas, de duplas mistas, de homem, de mulher (algumas formosas e outras nem tanto), de meninos, de meninas, de sêniors etc. Foi absolutamente sensacional. O nível é muito alto, mesmo não vendo Federer, Nadal, Djokovic ou afins. São jogadores top 10 do mundo jogando no mais tradicional torneio do mundo. Teve cada jogada sensacional, e tudo numa velocidade fantástica (coitado dos juízes de linha). Vi jogador se desesperando, ouvi a Sharapova gritando (de outra quadra!), vi gigante jogando com "anão", vi gente famosa (Boris Becker, o loiro de terno numa das fotos abaixo). Tem quadra que eu sentei pertinho, tem outras que fiquei de pé no alto, teve hora que sentei no morro para ver o telão passando o jogo que estava acontecendo na quadra central.
Foram seis horas muito divertidas. O duro é que para chegar lá você tem que passar por uma fila massiva. É aquela coisa para fazer uma vez na vida e dizer que fez, que esteve lá. E eu fiz, estive lá.
PS: ficamos tão empolgados com o tênis que o pessoal do lab decidiu ir jogar tênis na semana passada (na quadra dura, não na grama...). Foi muito divertido, jogamos por 3 horas, incluindo sob chuva. Mas quando o Ben resolvia sacar sério nenhum de nós chegava perto da bola...
Agora me diga que nesse domingo, aproveitando sua fase esportiva, você esperou longas horas do lado de fora do circuíto de Silverstone...
ResponderExcluirSe bem que se fosse pra manter tradições eles estariam fazendo o reabastecimento!
Não fui a Silverstone por diversos motivos. 1) Eu já vi uma corrida no autódromo, não seria a primeira vez. 2) O preço do ingresso + passagem seria maior que 100 libras. 3) A transmissão da BBC é tão boa que eu não tenho vontade de ver corrida em nenhum outro lugar...
ResponderExcluirMas é o templo sagrado da formula 1!
ResponderExcluirMas de qualquer forma, já vai acostumando com a ideia de ter o velho Galvão, a não ser quando temos jogos da seleção...
Eu só não entendi porque cargas d'água com uma jogadora de tão alto nível no telão você olha pro outro lado pra tirar a foto...
ResponderExcluirÉ a primeira vez que vejo alguém escrever "cargas d'água"!
ResponderExcluirQue nível, hein?
ResponderExcluir