sábado, 11 de dezembro de 2010

Made in China



Para provar a vocês que não sou preconceituoso com os chineses, apesar do histórico desagradável, aqui conto a história de Chen e Wei.

Lá estava eu num dia frio e chuvoso de outubro voltando para minha casa para o meu almoço. Devia ser uma terça ou quarta-feira, pois no sábado anterior me lembro da barulheira devido à mudança de um monte de estudantes para a minha moradia. Eu estava bravo pois eu não estava mais praticamente sozinho na moradia, meus vizinhos eram antipáticos, a internet tinha ficado sensivelmente mais lenta e os corredores passaram a ficar sujos com frequência. E eu botava culpa nos japoneses (não sabia na época que eram todos chineses!).

Bem, voltando àquele dia. Quando cheguei em casa, vi um casal oriental do lado de fora, cheios de malas e tomando chuva. Perguntei a eles quem eram e eles me disseram que estavam se mudando para lá, mas a responsável pelo escritório de gerência não atendia à campainha ou ao telefone. Na hora me lembrei do meu dia de mudança, em agosto, quando passei maus bocados do lado de fora na mesma rua, pois da mesma forma a dita cuja não atendia à campainha, e como eu não tinha celular, não podia ligar, até que um transeunte se ofereceu para ligar para mim.

Obs.: Aliás, essa funcionária é tão vagabunda que NUNCA eu a encontrei no escritório da gerência no horário amplo de trabalho dela (SEG-QUI 9h30-13h30), e eu já fui sem brincadeira mais de 50 vezes lá desde que cheguei, e eu já precisei várias vezes dela, principalmente no começo com meus problemas com o ralo entupido.

Bom, lá estava eu com os chineses molhados. Compadecido, pois sabia o que eles passavam, ofereci para que fossem para meu quarto. Lá chegando, eles me disseram que se chamavam Chen e Wei, um casal que chegava da China após 15 horas de voo. A menina, coitada, foi ao banheiro assim que entrou. Ofereci água e até comida para eles. Eles foram as primeiras visitas que eu recebi na minha casa. Já do meu quarto, tentei ligar para o número da funcionária, para a central da empresa em Oxford, mandei e-mail para todos os endereços que encontrei no site deles. Enfim, fiz um escarcéu. Afinal, quem iria dar as chaves do quarto para os chineses?

Enfim, como eles se recusaram a comer em casa, os instruí de onde ficava o supermercado mais próximo ou alguns restaurantes aqui da rua. Disse que eu ficaria em casa com as malas deles e, quando eles voltassem, eu retornaria para trabalhar na faculdade. E lá estava eu com um monte de malas no meu quarto... Esperei 20, 30 minutos e nada, nem eles voltavam nem ninguém da empresa me retornava. 40, 50, uma hora e nada. Onde eles tinham ido? E esse pessoal da empresa, não trabalha não? Esperei uma hora e meia. Eu deveria ter voltado a uma hora atrás para trabalhar, mas como eu poderia abandonar as malas dos chineses no meu quarto?

Eu desci, olhei na rua para ver se não estavam perdidos, ficava de olho na janela, checava os e-mails e nada de ninguém em lugar algum. Duas horas desde que eles saíram. Eu estava em pânico, quem larga as malas no quarto de um estranho, sai para almoçar e não volta depois de DUAS horas? E qual empresa que não retorna ligações ou e-mails em DUAS horas?

Daí encontrei o funcionário da limpeza, Jeff. O cara é o oposto da menina responsável pela casa. Prestativo, simpático e trabalhador. Já o conhecia pela novela do ralo que durou muitas semanas. Só que ele cuida da limpeza, não da casa. Eu expliquei o problema, ele entendeu e disse que poderia entrar na sala da administração e pegar a chave do quarto deles. Sorte que eu tinha perguntado o número do quarto e o nome dos chineses! O Jeff confirmou e, juntos, fizemos 3 viagens do meu quarto para o quarto dos chineses carregando as malas daqueles desconhecidos...

Falei para o Jeff que os chineses tocariam a campainha do meu quarto quando voltassem, portanto o Jeff tinha que ficar de olho nas câmeras. E eu, quase 3 horas depois, voltei à Física. Liguei para o Jeff uma hora depois e ele confirmou que os chineses já estavam em sua nova casa. E que me prometeram um jantar chinês duas semanas depois...

E lá fui eu ao jantar. Não estava nem aí para levar alguma bebida ou colocar uma roupa melhor. Eles estavam retornando um 'favorzaço' que eu fiz! O jantar foi ótimo, o cara cozinha muito, e olha que eu odeio comida chinesa. E eles se mostraram super boa gente, interessados no Brasil e nas histórias daqui, e eu nas deles, pois na faculdade não há chineses no meu laboratório. Ambos vieram do Tibet, têm uma história de vida diferente, lutaram bastante e tal, diferentemente do que são os outros chineses que moram aqui, egoístas e antipáticos, palavras dos próprios Chen e Wei, que dizem que esse perfil de jovem é cada vez mais comum lá na China e que eles consideram um subproduto do capitalismo (sim, eu concordo com eles e, sim, eles são comunistas!).

Depois desse jantar, nos encontramos mais vezes pelos corredores e conversávamos rapidamente. Prometi a eles que quando voltasse de Londres de novo eu cozinharia um jantar brasileiro para eles, com pão de queijo de aperitivo, salada com azeite e sal, feijão e carne. E foi o que eu fiz quarta-feira. A chinesa disse que minha mãe se orgulharia de me ver cozinhando! Eles disseram que gostaram da comida (sim, eu também gostei!). Conversamos de novo sobre vários temas, desde como ia o trabalho meu e deles na Universidade até como funciona o vestibular no Brasil e na China. Xingamos a funcionária juntos e elogiamos o Jeff juntos. Comentamos sobre o Natal e o Ano Novo chinês. Falamos sobre pratos típicos dos dois países. E é aqui que encerro este relato sobre os dois, com este pequeno excerto para que reflitamos sobre as diferenças culturais entre Ocidente e Oriente:

-André: Sei que na Coreia eles comem cachorro. Vocês comem carne de cachorro lá?
-Chen: É, tem raças que são criadas para isso. Eu comi uma vez, mas não gostei. Mas lá é aceito normalmente.
-Wei: Eu nunca comi.
-André: (cara de asco)
-Wei: Não, calma, a gente não come nossos cachorros de estimação.
-André: Puxa, que alívio... =P
-Chen: Mas quando nossos cachorros morrem, a gente vende para os vizinhos poderem comer...

5 comentários:

  1. Acho que seria a mesma coisa falar de um bom bile com indianos, ou como se diz no nosso meio rural - não se deve dar nomes às galinhas senão nunca termos canja.

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  2. Parece-me que seus vizinhos chineses "boa gente" tem certa aversão a este inimaginável e horripilante hábito alimentar. Ainda bem.
    Sinal que podem quebrar tradições culturais.
    Se não fosse assim, sua mãe proibiria você de andar com tais companhias.
    Ah!! Sim, com certeza sua mãe se orgulhará (e não vê a hora) de te ver cozinhando.

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  3. antes biscoitos assim: http://bit.ly/fLw7Q5

    do que assim: http://bit.ly/hjgvG6

    ( Q ; Q )

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  4. Sinto muita mágoa no "salada com sal e azeite"...
    E agora você vai ter que voltar em Greenwich para tirar uma foto com o pé no oriente....

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  5. É André, espero que vossa senhoria cozinhe pra nós do lab também! Um paprika schwaitzer (deve estar certo) no capricho pra todos os seus companheiros (8 pessoas no lab, com você, 9!)!

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