quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A crise econômica



Atenção, este post é provavelmente o mais BORING que eu já postei aqui. Portanto eu aviso que se vc não gosta de economia ou quer aproveitar o seu tempo lendo algo mais produtivo, volte em breve e leia o post seguinte que provavelmente não será um ensaio econômico amador como este. Mas eu me empolguei e deu vontade de escrever sobre um assunto que me vem enchendo a cabeça desde que cheguei aqui.

Hoje foi um dia que mudará o futuro do Reino Unido pelos próximos anos. Hoje à tarde o governo britânico divulgou a cartilha de cortes de despesas para tentar conter a crise econômica que atingiu a economia deles a fundo. Não vi a notícia nos jornais brasileiros ainda, mas em todo caso vou tentar explicar o que está acontecendo aqui de um modo indolor para quem se interessar pelo assunto.

- Crise, que crise? O Brasil vai muito bem obrigado - A crise econômica de 2008-2010, como vcs devem se lembrar (ou não), começou num brilhante dia de 2008 quando um tal banco chamado Lehman-Brothers nos EUA faliu. E isso acabou gerando um efeito cascata que afetou em cheio não só os EUA como todo o mundo. O Brasil pegou uma marolinha segundo nosso estimado presidente, e diferentemente do resto do mundo não foi tão afetado pela crise (não vou entrar no mérito se isso foi sorte, mérito do Lula, mérito do FHC etc.).

- Ah, lembrei dessa tal "crise". Mas como ela começou? E afinal o que é essa crise? - Para conseguir o American Dream, um cidadão americano típico, desses caricatos de filmes e séries de TV, tem que ter uma casa com jardim e com garagem para ter de onde tirar seu carro para lavar aos sábados. Para conseguir esta casa, o cidadão norte-americano pede ajuda a um banco. Qual banco escolher? Ora, aquele que dá mais prazo para pagar a dívida, ora pois. E um deles era o Lehman-Brothers, que dessa forma acabou conquistando milhões de clientes. Espertos como eles só, os banqueiros aproveitaram a dependência dos compradores de casas e cobraram altos juros sobre o valor enquanto os anos iam passando. Os americanos iam emprestando mais dinheiro e melhorando ainda mais sua casa, deixando-a mais bonitinha e valorizada como garantia para uma eventual hipoteca. E os bancos também ficavam felizes, pois estavam emprestando dinheiro e lucrariam muito quando os clientes pagassem os empréstimos mais os juros de volta. Então, os bancos começaram a vender seus títulos de crédito (esse dinheiro hipotético que os clientes deviam) para outros bancos e outros clientes. Era um negócio muito bom este, mas algum fofoqueiro começou a espalhar que os valores das casas estavam despecando e isto virou um grande boato. Todo mundo acreditou. A casa que valia 200 dólares e depois passou para 300 milhões, teve seu preço reduzido para 30 dólares. Muita gente já tinha financiado mansões e todos caíram do cavalo. Os estadunidenses aí não conseguiram pagar as parcelas do empréstimo aos bancos. E o banco não conseguia ter seu dinheiro de volta. E os clientes e os outros bancos que compraram os créditos fantasma viram-se sem dinheiro. Daí um banco faliu, o outro em seguida, o outro depois, cidadãos venderam suas casas a preço de banana e começaram a viver em trailers etc. etc. etc. Em resumo, crise econômica mundial.

- OK, ok, eu sabia o que era a crise. Mas como ela afetou tanto o Reino Unido? - Quanto mais rico o país, mais ele é dependente dessa bolha econômica especulativa do mercado de ações, no caso o mercado imobiliário. Imaginem quantos bancos ingleses não estavam metidos em negócios com o Lehman-Brothers e os outros bancos que faliram depois. Então os bancos ingleses também perderam muito dinheiro. E quem é o maior cliente dos bancos em qualquer lugar do mundo? Ora pois, é o próprio governo! Ele empresta dinheiro para financiar obras, pagar salários, bancar a educação e a saúde etc. O dinheiro dos impostos muitas vezes não dá para cobrir tudo. Isso é a chamada dívida pública. E como os bancos ingleses perderam muito dinheiro, eles o querem de volta. E os devedores que tentem pagar. Em outras palavras, o governo britânico tem que pagar a sua própria dívida, a dívida pública. Com que dinheiro? Com o dinheiro que o povo paga em impostos, principalmente. Mas para pagar todos os "14 meses de aluguel", o governo tem que parar de gastar tanto dinheiro. E daí vem os cortes.

- Ufa, finalmente vc chegou onde queria. Que cortes foram esses? - O governo do Reino Unido anunciou nesta quarta-feira o maior pacote de cortes de gastos públicos do país desde a Segunda Guerra. Os cortes incluem cortes em benefícios sociais, o enxugamento na segurança pública e até no orçamento de Defesa. Serão cortados em média 19% dos orçamentos dos departamentos do governo. Os cortes devem provocar o fechamento de quase 500 mil postos de trabalho no serviço público até 2015. Nos próximos quatro anos, os cortes de gastos do governo britânico devem chegar a 81 bilhões de libras (cerca de R$ 214 bilhões). Também devem ser elevados impostos para aumentar a arrecadação em 29 bilhões de libras (cerca de R$ 77 bilhões). No caso dos estudantes, as tais Tuition Fees (que para mim seria de 14000 libras ao ano para estudar aqui em Bristol) vão aumentar em média 20-30%. A idade para aposentadoria também vai aumentar. Apesar disso, saúde e educação se mantém sem cortes. Em resumo, é corte PRA CACETE.

Bom, aproveitem os bons ares do crescimento econômico. Aqui o negócio está bravo. E vai ficar MUITO pior em breve quando as greves e protestos começarem. Podem esperar e conferir no Jornal Nacional nos próximos dias.

Como diria o Seu Creysson, eu agarântio.

6 comentários:

  1. Será que você nos enganou esse tempo todo dizendo que ia para o IQ, mas na verdade ia se sentar nas confortáveis cadeiras de couro da FEA?

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  2. Sr. André...

    eles podiam fazer como o governo da Califórnia está propondo e vender os prédios públicos. Eu compraria o palácio da Rainha fácil. Aliás, podiam muito bem vender as joias da coroa...

    O interessante é não fazerem cortes na educação e saúde.

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  3. Nem sei mais escrever em português tb...

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  4. ok, esse eu pulo então

    ( 9 ; 9 ) yaaaaaaaaaaaaawn

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  5. E não cortam o dinheiro da educação e saúde... Aqui alguém sobe no poder e já pensa na CPMF de volta...

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  6. http://noticias.uol.com.br/album/101110_protestolondres_album.jhtm?abrefoto=4#fotoNav=1

    Vejam os protestos de hoje...

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