quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Viajando pelas Terras Médias - Parte 1




Engraçado como até o nome dos lugares aqui são mais chiques. Segunda-feira, por exemplo, atravessei o país em direção às chamadas Midlands, ou Terras Médias, a região do centro da Inglaterra. Parece até que eu estou na Idade Média falando termos como esse. Mais precisamente, em Derby. E não se fala Dérbi como vocês energúmenos de nação subdesenvolvida pronunciam. Aqui os chiques ingleses falam Dárbi. (nem precisa dizer que eu já errei pelo menos umas 10 vezes o nome da cidade...)

Enfim, por que raios eu não estava trabalhando em plena segundona? Aqui 12/10 não é feriado, portanto nada de emenda na segunda ou coisa parecida. A questão era que segunda-feira a seleção brasileira de futebol jogou. E não foi no Brasil. Foi aqui na Inglaterra. E não foi em Londres. Foi em Derby. E não foi contra a Inglaterra. Foi contra a Ucrânia...

Bom, se vocês não entendem a lógica do Brasil vir até um outro país jogar contra uma terceira seleção e ainda por cima numa cidade pequena, vou tentar explicar a vocês. Se vc não se interessa pode pular o parágrafo que não prejudicará o resto da história. A CBF controla a seleção brasileira de futebol. Quanto mais dinheiro ela ganhar com a seleção, melhor. Antes de zelar pelo bom futebol ou pela qualidade do espetáculo, eles zelam pelos bolsos deles. Tanto que terceirizam o direito de negociar os jogos do Brasil para uma empresa suíça, que escolhe quando e onde o Brasil joga. E sempre escolhe onde pagam mais. Por isso quase nunca o Brasil joga no Brasil. E por isso sempre tem jogo no Oriente Médio, por exemplo. Ou na Inglaterra. Deve ter empresário lucrando muito há muito tempo com jogo do Brasil aqui na Inglaterra, pois os clubes aqui só contratam brasileiros se eles jogaram pelo menos uma vez pela seleção. E os clubes aqui tem grana pra caramba pra gastar, então não tem oportunidade melhor para ver novos jogadores em ação, pronto para serem vendidos dos clubes brasileiros para clubes ingleses. Mas por que não Londres? Porque a Inglaterra jogou em Wembley ontem pelas Eliminatórias da Euro-2012, portanto o estádio favorito para a seleção jogar estava reservado. Daí tinham que escolher outra cidade. Escolheram Derby, pois lá tem muita empresa automobilística e muita grana na área tecnológica. Escolhida a cidade, escolheram o time para jogar contra. Escolheram a Ucrânia. E por quê? Porque todas as outras seleções europeias estão ocupadas jogando as Eliminatórias da Euro-2012, mas a Ucrânia não pois já está classificada por ser o país sede. A desculpa oficial é que o Brasil queria prestigiar o interior da Inglaterra jogando contra uma seleção europeia forte numa cidade com grande colônia ucraniana (sem mencionar que são todos fazendeiros e nem tem dinheiro para ir ao estádio).

Enfim, aí o Brasil jogou contra a Ucrânia em Derby, e eu fui. Além de eu estar em abstinência de ver futebol, pois ver o Bristol City não conta, era o Brasil vindo até o país onde eu estou. Nunca tinha visto um jogo do Brasil no estádio, portanto era uma oportunidade única para mim também. E de tabela conhecer uma cidade relativamente pequena para a qual eu nunca iria. E, além disso, a ciência pode esperar um dia a mais por mim hehhehehe

Isto posto, comprei o ingresso pela internet, comprei a passagem de ônibus e, como não havia ônibus ou trem desde Derby até Bristol de noite, tive que reservar um quarto de hotel para passar a noite. Depois de 2 horas num ótimo ônibus numa ótima estrada e com uma irritante pontualidade, cheguei a Birmingham. Birmingham (outro nome chique pra burro) é a segunda maior cidade da Inglaterra (atrás de Londres), coração das Terras Médias da Inglaterra,, cidade industrial e de negócios, muito como São Paulo. E por isso ninguém se interessa em visitar Birmingham, como ninguém se interessa em visitar São Paulo... Enfim, depois de uma escala lá, mais 1 hora de ônibus rumo ao norte até a cidade de Derby.



Cheguei na hora do almoço. A estação era perto do centro, e lá tinha um i. Peguei um mapa da cidade e sentei num banco em frente para folheá-lo. Logo vi que a principal atração da cidade era a Cathedral Square, ou quarteirão da catedral. E era exatamente onde eu estava... logo percebi que seria uma longa tarde até o jogo...



Mas não foi tão ruim assim. A cidade é pequena, bem menor que Bristol. Mas o calçadão central até que é legal, com umas lojas e tal. E tem o shopping. A segunda maior atração da cidade. Bem o que eu gosto de fazer, ir a uma cidade para fazer compras e olhar vitrines! Ironias à parte, depois do banho de loja (!), visitei a Catedral de Derby, que é bem velha (do ano de 943), e o Museu de Derby, que tem umas coisass bem velhas que contam a história da região desde a época romana até os dias atuais. Lá tinha uma área sobre geologia que realmente me impressionou pela capacidade em tornar um assunto potencialmente tão boring (eu não acho) em algo bem legal. E tem também muitas pinturas de Joseph Wright, um pintor inglês muito famoso aqui e que pintou muita coisa relacionada à Revolução Industrial. O cara é o orgulho de Derby, e com razão, pois as pinturas dele são muito animais (não podia tirar foto dentro do museu, mas eu postei uma réplica de um quadro famoso dele - procure no google pois vale à pena, especialmente para nós que pouco vemos pintura relacionada à ciência, ainda mais do século XVIII). E o melhor: pude apreciá-las na mais absoluta tranquilidade (para não dizer solidão) de um museu vazio.







Depois do jogo (que será a Parte 2 da história), peguei um ônibus até o centro da cidade. Lá chegando, 21h45, percorri o calçadão (que à essa altura já conhecia de cor...) em busca de um lugar para jantar. Ledo engano, tudo fechado. E os supermercados? Fechados. E o shopping Wesfield, com certeza a praça de alimentação da segunda maior atração da cidade estaria aberta. Rá, otário, fechada. Resignado, e de certo modo com medo pela solidão daquele calçadão, fui para o hotel. Cheguei lá ainda antes das 22h e logo me dirigi ao restaurante. Mas qual não foi minha surpresa ao encontrá-lo também fechado. Será que as pessoas em Derby não jantam???

Depois de dormir de estômago vazio, fui obrigado a tirar o atraso no café da manhã do dia seguinte. Mas digo para vcs que tirar o atraso com café da manhã inglês não é tarefa fácil. Encarei aqueles pratos quentes que eles comem, incluindo o bizarro feijão assado com molho de tomate, o bacon, a linguiça preta e os cogumelos. Só passei o omelete pq aí seria o cúmulo da fome pra mim. Sobrevivi ao massacre estomacal e me dirigi ao check-out do hotel 1 hora antes de pegar outro ônibus. Que otário (de novo). O check-out durou menos de 30 segundos e eu já estava fora do hotel às oito da manhã naquele frio desgraçado. E pior: de novo no calçadão!!! Consternado, fiquei por lá para ver a movimentação da cidade pela manhã até a hora que me enchi e fui ler um jornal na rodoviária da cidade até pegar meus ônibus e voltar ao pacífico Countryside de Bristol.

E chega de calçadão!!!

4 comentários:

  1. Pois é André... sua aventura não gastronômica me lembra quando estava em Matão, perto de Araraquara. Segunda-feira a noite todos os restaurantes estavam fechados! Poderiam falar que seguem a tendência inglesa!

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  2. E ai André... onde estão as continuações dos contos de Tolkien?

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  3. Nossa, nem me fale do café da manhã inglês :O

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  4. rsrsrs Que saga hein? Nossa! Pelo menos da próxima vez, vê se leva um lanchinho! Legal vc ter visitado o museu e falado um pouco sobre o pintor, fora o comentário sobre a CBF, parecia até o meu irmão falando. rsrs Um grande abraço, Luiza.

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